É engraçado quando por vezes me pego com alguns pensamentos pra lá de nostálgicos.
As vezes tenho mania de deitar no chão do meu quarto, ficar olhando para o teto enquanto ouço minhas músicas favoritas... aliás, são quase sempre as mesmas.
O que isso poderia acarretar? Lógico... caio no sono ali mesmo no chão... e muitas das vezes é papai que vem me acordar num gesto típico que ele faz comigo desde minha infância: ele apenas puxa um dos meus dedos dos pés e diz: Mila, vai dormir na cama. – eu lógico, digo: Já vou... – Pior que esta cena se repete umas três vezes até eu arrastar meu corpo até a cama.
Num desses arrastões que resolvi por minha mente a pensar sobre quando percebi que não era mais uma criança, e que poderia de certa forma ‘virar-me sozinha’.
Desde aonde lembro, já fazia muita coisa sozinha: ia para escola, servia-me para comer a hora que a fome batia, fazia os serviços triviais em casa... mas foi aí que veio uma lembrança clássica...
Lembro que quando ia dar boa noite para papai, ele sempre vinha até minha cama, me dava um beijo de boa noite, cobria-me como só um pai sabe fazer e abençoava meu sono. Este gesto tão simples e profundo de papai, foi o laço que uniu a minha confiança, carinho e meu único amor verdadeiro a ele.
Mas não sei por que mas um belo dia percebi que nem eu e nem papai, fazíamos mais nosso pequeno “pacto” noturno... Eu não ia mais até ele e ele por sua vez, não vinha... ficava no boa noite... mas o gesto de ir até minha cama, não havia mais. Lembro que tinha por volta dos meus 13 anos... e naquela época não tinha caído minha ficha neste sentido que não era mais uma criança... a síndrome de Peter Pan tinha ido embora... sentia e via as mudanças em minha volta, no meu corpo e na minha mente... e que estava dando adeus ao meu mundo infantil. De certa forma, já tinha afincado alguma bandeira de independência que não sei bem aonde... mas de certa forma, a vida estava pedindo isso bem sutilmente.
Penso que deve ser difícil quando o pai percebe sua filha crescendo... mesmo morando embaixo do mesmo teto... ele vê que ela não é mais sua e sim do mundo.
Hoje, mesmo estando na minha maturidade de mulher, sei que perto do meu pai, poderei ser em certos momentos aquela criança que um dia ele carregou e colocou para dormir varias vezes... Não preciso ser mais nem menos para ele... e esta é a graça e a magia de tudo... a felicidade de ainda ser filha.
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