O engano, o medo e o orgulho.
O engano está na visão sobre liberdade. Enquanto capacidade de caminhos abertos a liberdade sempre está ali, mas enquanto trilha percorrida para visão ampla demanda uma ação. Liberdade não é fazer o que se quer, mas ter livre acesso ao que se quer e poder não querer. E naquilo que não se quer poder navegar sem peso até querer. A ideia de que a vida é algo pré-dado, fixo ou “à minha espera” é um dos grandes enganos que carregamos. É essa visão rígida que alimenta o preconceito, a discriminação e a pequenez de nossa ação. A impossibilidade de experimentar novos sabores, pensamentos, visões de mundo é o resultado desse engano fundamental. Querer paralisar o prazer e a felicidade em algo estático também.
O medo é o apego ao conhecido, ao antigo, ao vivido. É quando tentamos proteger valores, experiências e pessoas simplesmente porque temos medo de mudar. É querer garantias para tudo e colocar o sofrimento e a perda como um inimigo em potencial a ser evitado. Evitar sofrer é o passaporte para a prisão emocional. É nunca apostar as fichas em nada por medo de perdê-las. É esquecer que não somos nem as fichas, nem o jogo e que podemos ser feitos de bobo a qualquer momento. E tudo bem, não há nada a perder. Podemos recomeçar do zero a qualquer momento em qualquer lugar. Teremos a garantia de apenas uma coisa, estaremos ali onde estivermos. Essa é a pedra fundamental da confiança de alma.
O orgulho é aquele imperador preguiçoso que sempre tem muito medo de arriscar. Aprisionado em sua majestade ele é incapaz de agir de fato, afinal o império psicológico que ele construiu é grandioso. Ser questionado, corrigido, rejeitado ou passado para trás é um pecado mortal. Como alguém poderia colocar um imperador em segundo plano? Quando você acha que tem muito a perder sua liberdade é menos que um grão de pó.
Seja na cama, na mesa, no banho, na roupa ou na vida se você tiver a visão errada, medo demasiado e muito pelo que arriscar sua vida será limitada. Sua liberdade será só uma esperança vã.
Gosto da cena final do filme “O náufrago”, o personagem principal que após perder absolutamente tudo num acidente quase fatal de avião e permanecer sozinho numa ilha por quatro anos se vê numa encruzilhada. Finalmente poderia seguir para qualquer lugar.
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