O título é bem adequado ao que quero expressar neste singelo
espaço.
Há quem odeie ou ame novelas. Mas muito além da trama toda
colocada, sempre observo a personagem e o aquele que o dá a vida e afins.
Na reta final da novela das nove ( Amor à Vida) – acredito
que boa parte da população fanática pela dramaturgia enlatada dos últimos anos.
De tempos em tempos, entre dezenas de medianas atuações, eis que surge uma
personagem que realmente desperta o gosto de vermos uma novelinha.
A idéia da novela, é exatamente o olhar fora da nossa
realidade, mas que muitas vezes faça com que a vemos quase vomitada em nossas
casas de uma maneira exagerada, dramática ou humorada de nossas vidinhas.
Não quero jogar confete em especial nesta novela. Mas minha
admiração profunda pela personagem de Mateus Solano ( Félix) – foi amor à
primeira vista. Só comecei a acompanhar a novela em seu terceiro capítulo. Ao
me deparar com a cena que vi, uma personagem homossexual, odiando tudo e a
todos, aquele deboche, ironia e sarcasmo elevado a tantas potências... Tive a
certeza que seria um sucesso.
Só assistia a novela para ver o Félix. Queria entender o que
se passava no decorrer da trama e o porque de tanto ódio aos seus e tudo que
ele almejava em bens materiais. Sua ambição desmedida, sua artilharia pesada
para quem atrapalhava seu caminho, os planos, as manipulações e etc. Ele
poderia ser odiado desde o inicio – mas não foi. O máximo que poderíamos dizer
é que FDP!
Ao meu olhar – a novela é Amor ao Félix! Toda a trama foi no
ritmo dele. De tudo que se transformava ao seu redor – as outras personagens
que acompanhavam em suas manipulações. E aquele humor que nunca perdia o
tempero. E surpreendentemente vimos um
Félix mudando. Sim! Algo se descobria nele e nós seriamos as testemunhas.
Quando a sacada de toda revelação de sua perversidade ( e
não maldade) – foi descoberta, a cena foi apenas dele! Os outros atores ficaram
realmente como figurantes.
Após o acolhimento de Márcia, e ele descobri parte do porque
do ódio de seu pai sobre ele... foi uma seqüência de sensibilidade do ator
dando vida a todos aqueles sentimentos de rejeição e abandono de anos. Pela
primeira vez, Félix era visto frágil. Sua parte humana foi mostrada... Ele
realmente descobriria a bondade muito além de comerciais e campanhas de
solidariedade. Ele viveria no lar da ex- babá que ele poderia sentir como é ser
amado. E mais: que a vida estava dando uma chance muito especial para que a sua
vida valesse a pena.
Ali vimos todo o deboche de Félix ajudando na venda do HOT DOGS! Impossível não
ri junto com ele, rindo da própria vida rs!
Realmente o único que não era cego na novela era ele. Todos
os outros personagens escapavam da realidade! E Félix jogava na cara de todos!
Mesmo ele não tendo moral para muita coisa.
Mas o legal que o politicamente correto não vivia nele. Acredito que
essa tenha sido a boa sacada que o compunha.
O bonzinho não atrai. A bondade sim- mas com dose de muita
inteligência. Bonzinho burro não tem vez! Fato que se comprova quando Félix chamava
Niko de “bicha burra” ( quando não queria ver a verdade por trás daqueles que
os rodeavam).
Félix farejava de longe a malicia das pessoas . Lia
pensamentos que nem o próprio que pensava imaginava que estaria emanando no
ambiente.
A perversidade começou a ser amenizada aos poucos. De forma
bem autentica.
Fazia tempos que na teledramaturgia não aparecia esta
complexidade de caráter. Complexidade esta que nos deparamos em uma ou outra
pessoa que nos esbarra pela vida. Perguntei-me várias vezes durante a trama, e
nas cenas dele, o que eu faria?- O que faria se encontrasse um Félix em minha
frente? Perdoaria? Vingaria- me? Caia na porrada?
Odiar é tão forte e intenso quando se ama. A faceta desses dois sentimentos foi mostrada
de forma brilhante.
Poucos sabem e vivem o amor, e penso que o ódio também.
Mas e a gentileza? O afeto? A confiança? O Acolhimento? –
tantos outros comportamentos foram mostrados de forma muito sutil e para quem
quer pensar e não ver apenas o sangue escorrendo na tela, o quando estes
pequenos valores fazem muita diferença na vida de alguém!
Na minha opinião o pior vilão foi o César! Ele foi tão
cruel, muito além que a Aline fez de forma psicopata para com ele. César
destruiu seu filho, em doses homeopáticas.
E é fato que muitos pais, fazem isso sem consciência- Numa
brincadeira, em meia dúzia de palavras, num olhar diferente ou indiferente, num
tom de voz... em coisas sutis... alheio as necessidades de suas proles.
Félix foi fruto direto de um puro preconceito diário e cruel
que temos conosco e com tudo que não aceitamos de diferente em nossas vidas.
Desprezamos, ignoramos, punimos, caluniamos e por fim... ficamos cegos! Cegos a
tudo que poderia nos melhorar em nossa convivência com o outro.
Fácil não é. Félix teve que rebolar muito, e o seu humor
negro o salvou durante toda esta jornada.
No fim, a astúcia dele foi pedida para ajudar a desmascarar
as mentiras de Aline e tantas outras que rodeavam alguns.
Irônico? Talvez?! A vida é irônica com a gente... quase
sempre! Mesmo você sendo correto... ela lhe mostra alguma coisa para que você
saia do seu mundinho confortável e engessado.
No fim das contas... Félix se revelou um anti.herói! Fora de
todos os conceitos liberais ou conservadores.
O fato que o salgar a santa ceia virou apenas umas das armas
que esta personagem deixará saudade. E como é bom ver gente de talento na TV
ainda.
Félix virou assunto de muitas conversas filosóficas com
amigas. E só por conta desse poder, que percebo o quanto um bom trabalho
reflete em nosso senso de opinião.
Como disse uma vez Francisco Cuoco a uma entrevista: Não
existe personagem pequeno numa novela, cinema ou etc, existe pequenos atores em
suas atuações.
Fato comprovado numa novela... imagine em nossa vida.